FRANCISCA LUCIANA

Francisca Luciana

POESIA_DE_FORTALEZA-POETA- FRANCISCA LUCIANA

Nome: Francisca Luciana 

Biografia:

FRANCISCA LUCIANA SOUSA DA SILVA nasceu em Fortaleza-CE aos 20 de janeiro de 1977. É graduada em Letras pela UFC (2002) e mestra em Literatura Comparada pela mesma instituição (2015), especialista em Estudos Clássicos pela UnB e Cátedra Unesco/ARCHAI (2013) e doutoranda em Estudos Literários pela UFMG. Professora, revisora, poeta e atriz (Cia. Palmas de Teatro, de 2011 a 2013, e Grupo Paideia, de 2002 a 2012). Pesquisadora vinculada ao Núcleo de Cultura Clássica e ao grupo de estudos Vertentes do Mal (CNPq) da UFC, além do Grupo de Pesquisa de Tradução de Teatro (GTT, UFMG/CNPq). Colaboradora do projeto “Ariadne Rústica Hilst: um mergulho nos mares da mitologia grega e da poesia”, da Cia. Crisálida de Teatro (2018-2019). Integra a equipe de poetas do Fazia Poesia, do Medium.

Poesias

Balada das carpideiras

Em memória de Célia Zanetti, mãe de Juliana Zanetti, duas guerreiras…

Mais uma noite avança
em cordas retesadas
Ecoa o resistente carpido
duela com chuva breve
O voo branco
que a tantos assombra
rasga a madrugada
em notas de sombra e dor
Entre pios e carpidos
A madrugada avança
Sob as asas da ave-mãe
Em voo-vaticínio
A prole esganiçada
não cessa seu grasnar
Até que sobre ela
Sossegue a carpideira.

Ode a Clitemnestra, uma canção de amor

Para Juliana Veras

Cacos de vidro no chão
Nos pés, nas mãos, no coração
Cacos
Cactos
Carpidos
Corrompido peito
Chagado amor
Altar desfeito
Toda ela é assombro e dor
Tamanho estupor
Rasgado gesto
Leito
Lenho
Banho
Do mal infesto
Um lastro de sangue e
Uma canção de amor…

Um cão ladrando no asfalto

Um cão ladrando no asfalto
Em plena faixa de pedestre
Teria sido abandonado?
Parecia desorientado
Em dado momento
Ficou no meio do cruzamento
Latindo entre os carros
Um cão sem dono
Sem rumo
Sem coisa alguma
Um cão apenas
Feito eu
Um cão ladra na noite
Seu lamento canino
Cai fundo em mim
Tão funda agonia
Ovídica me pareceu:
Sozinho, desterrado
Naquele ponto do asfalto
De uma fortaleza não menos triste…
Também eu me vou desterrada
Neste ponto de solidão
Perdi a bússola, o mapa, o senso
De direção
Perdi-me de mim
Onde irei assim?
Alma enviesada
Ainda encontrarei
(meu) lugar?

Sobre trilhos

Quanto nos custa chegar à outra margem? Quão custosa pode ser uma simples travessia? Pensa enquanto pisa, como se pi(e)sasse os próprios pensamentos…

O arco do viaduto é um insulto de concreto:
quanto pesa?
No miolo e ao redor,
prédios, pistas, passarelas.
Tudo pesa na cidade-cinza.
Sob os pés cansados,
trilhos com outra função:
nem trem nem metrô,
apenas peões e estudantes
que vêm e vão
sem pressa
aparente.
Do outro lado,
frêmito de outra ordem:
homens-besta a separar entulho —molas, vigas, placas.
Tudo suportam e tudo carregam
ou quase tudo.
Muito lhes falta,
principalmente
dignidade…

Calaram-se as cigarras

 

Calaram-se as cigarras
Estridentes, renitentes cigarras
Em seu lugar, carpidos intermitentes
Sob o rasgo do céu
Carpe em desassossego
Já não reconhece o velho solar
Em voo circular
Carpe sua dor…
Horas carpidas
Regidas pelo vento
Companheiro único
Desse instante que passa…
Horas carpidas
Na ânsia de (te) encontrar
Só mais um olhar
E mais uma vez
Adeus…